Sobre as inconstâncias da sua chegada

 É esse desejo de te ver toda hora. É essa mania de ouvir repetidamente a música que você me enviou pelo WhatsApp, só para eu reparar como o cara do contrabaixo tocava bem e eu já imagino ela tocando na entrada do nosso casamento. É a vontade de ser fã daquele jogo insuportável que você adora só para ter mais assunto com você. É o remorso de você ter enviado uma mensagem e eu responder no mesmo segundo, ou se muito tarde, três segundos depois. É eu vasculhar todo seu histórico na internet e encontrar coisas do tipo: você passou o Natal na casa da sua tia-avó em 2008 e ganhou o campeonato de matemática da sua antiga escola em 2011. Pra falar a verdade, você era bem esquisitinho naquela época, né?!
 É você dizer que adorou meu perfume e eu não parar de usá-lo. É comer uma pizza gordurosa e lembrar que você acha aquilo a melhor comida do mundo. É viajar no final de semana para a praia e preferir o final de semana passado, que eu fiquei 8h seguidas com você no Skype. É por milésimos de segundos soar frio ao ouvir uma voz parecida com a sua e me dar conta que ninguém tem um tom de voz tão maravilhoso quanto o teu, instantes depois. É preferir sair com os cabelos soltos porque você, no último filme que assistimos, achou a atriz lindíssima e em nenhuma cena ela estava com o cabelo preso, mesmo sabendo que aquela mulher consegue ser bonita até careca. É antes de enviar uma mensagem de voz, ter errado pelo menos uma três vezes antes, embolando as palavras complexas e tendo que gravar a mensagem novamente para não dar uma gafe.
 É receber uma curtida em uma foto no Facebook e esperar a-n-s-i-o-s-a-m-e-n-te que seja a sua curtida, afinal, aqueles outros 68 likes não possuem muita importância. É dizer tchau com vontade de dizer fica. É sentir saudade mesmo sem você ter ido embora ainda. É a direção suave e contrária que a vida levou após a sua chegada.