Clave de sol

16 de dezembro de 2014



Acordada às 03:52 em uma madrugada de sexta-feira, ouvindo John Mayer repetir pela sétima vez no seu celular, ela já passava sua terceira noite consecutiva sem sono. Olhando para o teto do seu quarto, imaginando a complexidade que a cerca dentro daquele quarto. Ela já havia refletido sobre a imensidão do mundo algumas vezes, quando saía com suas amigas pelos bares da cidade e quando o álcool subia à cabeça, qualquer assunto parecia demasiadamente interessante. Os 15 anos que se passaram desde sua chegada ao mundo foram um tanto quanto atordoado, achava um absurdo algumas situações que a vida a impunha.
 Como é que pode, já naquela idade, não saber o que se quer para a vida e não achar sua essência? Sim, aos 15 anos a sociedade já pregoa que você é mulher, tem até aquela festa de 15 anos que ela não dava muito importância, recusava assiduamente usar um vestido com cara de bolo-da-barbie. Na verdade ela já sabia o que queria desde a primeira vez que ouviu seu pai tocar Clair de Lune no piano, em um domingo, no aniversário da Tia Lúcia. A música a desconectava do que ela deveria ser e a levava diretamente para o que ela era.
 Era complexo entender que existem duas vidas a serem planejadas, a que você deve seguir de acordo com a sociedade e a que realmente você quer. Gostar, até hoje, de ouvir Bad Street Boys e ler religiosamente as páginas da revista de adolescentes continuava sendo seu maior segredo. Era custoso e doído entender o motivo de ter que trocar suas partituras pela vida dura de um escritório de contabilidade, até porque a clave de sol parecia muito mais amigável que as razonetes contábeis e que para ela, não tinham nenhum sentido.

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